O grande Oscar Wilde expôs que a vida imita a arte mais do que a arte imita a vida. Mais de um século passou – ou ultrapassou – esta frase, e enquanto a genética mostra que é possível a vida imitar a vida, penso eu, com aflição ímpar por não encontrar verdade límpida e visível, será que a arte imita a arte?
Depois de reler as primeiras páginas desse novo trabalho de Adilson Taipan, creio ter minhas dúvidas dissipado. Sua poesia vem a provar que a arte das letras pode, sim, retratar outra arte – no caso, a arte da bola, do artesão que não se formou para saber tudo do ofício, do operário que pode desempregar o patrão, da pureza levada de maldade.
Taipan faz isso nas próximas páginas, amigo leitor. Cuidado com o que vem pela frente. Assim como no estádio você paga por algo que espera acontecer, mas não sabe se ocorrerá, aqui você pagou justamente e também por isso. Se pensas ver um jogo morno, ou fácil, engana-se. Você não sabe o que te espera. A voz intrínseca do feroz autor te dará um lençol emendado com uma bola por entre as pernas, te deixará às vezes no chão, estatelado mesmo após entrar de carrinho.
E para Taipan não há impedimento: se é para fazer o gol ele faz. Não importa se de mão, de bico, de trivela ou num chute macio, capaz de deixar as arquibancadas em devaneio pelo esplendor de toda a jogada.
E haja jogadas. São lances que, às vezes, começam com um chutão para a frente mas que logo encontram o craque na meiúca para conduzir o time ao ataque com habilidade rara.
Taipan é poeta da bola. Taipan é bolada na poesia. Taipan é moderno sem ser modernista, é real sem ser realista; é leitura que nos faz sorrir ou pensar. É um pedaço de Brasil, com “B” de Botafogo, botando um barato burlesco na beleza de brincadeira que é o berço da bola.
(Marcos Eduardo Neves, autor de "Nunca houve um homem como Heleno)
Autor(es): Adilson Taipan
Editora: @livrosdefutebol
ISBN:
Lançamento: 2010
Páginas: 80