"Um País se faz com Homens e livros" (Monteiro Lobato)

Tudo começou em 1980, quando fui indicado para gerente de propaganda da Editora da Fundação Getulio Vargas, do Rio de Janeiro.

Foi ali que descobri que, tão bom quanto ler livros, era se envolver com toda a sua cadeia de produção. E tive o prazer se trabalhar sob as ordens do genial escritor José J. Veiga, que eu já admirava pelos seus livros que eram então rotulados como Realismo Fantástico.

Nascera em uma casa onde nossos pais, constantemente, nos incentivavam a ler — e nos davam livros (Monteiro Lobato e Ziraldo, por exemplo). Muito garoto, ganhei de papai meu primeiro livro de futebol: Gigantes do futebol brasileiro, de Marcos de Castro e João Máximo, de quem fiquei próximo por morarmos em Vila Isabel e pela natural afinidade com futebol e livros.

Sempre víamos nossos pais lendo, fossem livros, jornais ou revistas. O exemplo dos pais é fundamental para que os filhos se interessem pela leitura. Embora não tivessem tido a oportunidade de completarem seus estudos, eles se empenharam, de um modo emocionante, para que os três filhos tivessem acesso, pelo menos, à universidade. Mas dois de nós fizeram pós-graduação; e um, MBA.

Por indicação de um casal de tios muito queridos — ela, irmã do meu pai —, fiz vestibular para a ESDI — Escola Superior de Desenho Industrial que me colocou em contato com professores que ajudaram a consolidar a formação acadêmica necessária para ir em frente cm segurança.

Ao me desenvolver no mercado de trabalho, carregava uma formação que mesclava redação de propaganda, design gráfico, marketing e propaganda. Convivera em família com desenhistas, artistas, arquitetos, fotógrafos e pessoas interessadas em Arte e Cultura, o que incluía muita música boa e livros em profusão.

Ainda na ESDI, comecei a fazer os chamados trabalhos free-lancer, porque — já casado — tinha quatro bocas em casa para alimentar e me empenhava para nada faltar a eles. Mas a lição dos meus pais permaneceu: nossa casa tinha livros e música boa. Hoje, vendo meus filhos já adultos, percebo que a estratégia dos “velhos” deu certo: nós também nos empenhamos para que nossos filhos gostassem de ler.

Trabalhando, fui parar no Museu Histórico Nacional, uma experiência muito gratificante, que me colocou em contato com um tema que sempre me encantou: a História. Ali, conheci o Zyg, que me levou para trabalhar com ele na Carioca Engenharia, eu fazendo a parte de marketing da construção da Linha Vermelha e, em seguida, comecei a fazer livros para a Mauad Editora, fundada pela saudosa Isabel Mauad, mulher do Zyg.

E foi ali que fiz meu primeiro livro de futebol: O jogo bruto das Copas do Mundo, do jornalista e escritor Teixeira Heizer, que eu vira, quando jovem, todo domingo, participando da incensada Resenha Facit, ao lado de João Saldanha, Nelson Rodrigues, Hans Heningssen, Luiz Mendes, Leo Batista etc. Só fera.

Eu estava definitivamente picado pelo virus editorialis, gostando muito de fazer livros. Fiz outros mais, para a Mauad e para outras editoras. A princípio, feitos “na mão”, até que, com o advento da Informática e dos personal computers, tive acesso ao Page Maker, um programa que nos permitia produzir livros com bastante desenvoltura e rapidez.

Vida que segue e eis que, por obra do acaso, conheci o hoje saudoso jornalista Botafoguense Roberto Porto, de quem fiquei amigo, depois de trocar ideias por e-mail com ele sobre o que ele chamava de “sua maior paixão imaterial”: o time da Estrela Solitária.

E o estalo definitivo veio através de uma conversa por telefone, quando ele me disse:

— O meu sonho, Cesar, era fazer o meu livro sobre o Botafogo.

Ao que eu, desaforadamente, respondi:

— Escreve que eu produzo.

Descobrimos que morávamos a pouco mais de uma quadra um do outro, na terra de Noël de Medeiros Rosa, o Poeta da Vila. Nos encontramos na casa dele e começamos a planejar como seria o “livro dele”. Convidei o excelente designer Botafoguense Marcelo Fonseca da Rocha, da M4 Design, ganhamos a adesão do genial Ique caricaturista Woitschach para a capa e fizemos Botafogo: 101 anos de histórias, mitos e superstições, um livro de que me orgulho até hoje, até por ter proporcionado ao meu querido amigo a alegria de fazer o livro que ele tanto queria. Mas, por não ter ainda a minha editora, entreguei para outra, que pudesse fazer o livro com qualidade.

O lançamento foi um acontecimento. Combinei com o Porto que ele deveria chegar cedo e, às 17 horas, estava ele subindo as escadas da Dantes Livraria, na Cinelândia, no Rio de Janeiro. E o incrível é que lá já estavam alguns de seus muitos admiradores, loucos para comprar o livro, conversar com ele e pegar um autógrafo.

A festa acabou depois da meia-noite, com a presença de centenas de torcedores, ótima cobertura da imprensa, muita alegria, alguns barris de chopp  e mais de 400 livros vendidos. Mas deixa estar que a ideia da editora não saía da minha cabeça.

Comecei com uma loja virtual: a livrosdefutebol.com. E nem três anos se passaram, desde o lançamento do livro do Robertão, quando inaugurei a “minha” editora com o livro O artilheiro que não sorria, de autoria de Rafael Casé, a biografia do artilheiro Quarentinha.

E não parei mais...

A pandemia complicou as coisas: livrarias quebraram e fecharam, patrocínios sumiram. Mas eu sou um virginiano chato — perdoem o pleonasmo... — e não desisto fácil, não. Aliás, desistir é verbo que não faz parte do meu dicionário.

E já vamos aí com mais de dez anos da Editora aberta, dezenas de livros publicados, muitas ideias para realizar e um excelente relacionamento com a imprensa esportiva, que me permite divulgar os livros lançados.

Fácil, não é. Principalmente em um País cuja população lê menos de dois livros por ano. E que uma recente pesquisa apontou que, em 2023, 87% dos brasileiros sequer comprou um livro. E eu fico pensando no mestre Monteiro Lobato, que dizia que um País se faz com Homens e livros. Ele estava certo; e meus pais, também.

Todo o esforço para trabalhar com qualidade resultou em dois encontros notáveis: com as famílias do grande jornalista ítalo-paulistano Thomaz Mazzoni e do editor Milton Pedrosa, fundador da Editora Gol, a primeira a se dedicar a livros de futebol no Brasil.

A vida de editor nanico não é fácil, mas proporciona momentos de grande satisfação. Tenho me empenhado em proporcionar aos leitores as melhores obras, inéditas ou reeditadas, e dar minha contribuição — um legado — à Historiografia do Futebol.

Esta nova loja está apenas começando uma nova fase da LivrosdeFutebol, selo editorial da Pébola Casa Editorial. Brevemente, teremos além dos livros e e-books, muito conteúdo, entrevistas, podcasts etc.

Espero que vocês nos acompanhem e mantenham contato, com críticas e sugestões.

Bola pra frente! Vida que segue!

Cesar Oliveira, editor